LER

Texto de participação da Turma 14 da EB1 Conde de S. Cosme
na sexta-feira, dia 5, no
Concurso de Leitura Expressiva
- na Biblioteca Escolar / CRE das Lameiras -


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Uma proposta de leitura para quarta-feira, dia 3
- da Biblioteca Escolar / CRE Luís de Camões -

O Misterioso Livro

Num dia chuvoso de Inverno, os gémeos, João e Filipa, decidiram fazer uma surpresa aos avós. Era sempre uma alegria visitar os avós porque a casa onde viviam, tão antiga e misteriosa, escondia muitos segredos. Parecia que cada parede da casa tinha um mistério por desvendar.
Assim que chegaram à pequena aldeia onde os avós viviam, correram para a porta mas, em vez da sorridente avó Rosa, foram recebidos pela Antonieta, a rabugenta e enigmática empregada da casa.
- Boa tarde! O que desejam, suas pestes?
- Boa tarde, Antonieta! Nós vínhamos visitar o avô e a avó. – respondeu Filipa.
- Eles foram à vila tratar de uns assuntos. – disse a carrancuda Antonieta, enrolando uma das suas madeixas ruivas que se tinha soltado.
- Sim? Mas, nós esperamos. – interveio João.
-Entrem lá, então! Sentem-se no sofá da sala grande mas façam pouco barulho porque a Dona Arminda está a descansar. (D. Arminda era uma velha amiga da avó Rosa que tinha ficado sem casa, por causa das finanças e os avós decidiram dar-lhe abrigo.)
Os meninos entraram e sentaram-se. Repararam logo no enorme livro verde que estava em cima da mesa de café. Era um livro muito antigo com um aloquete enferrujado. João, como era muito curioso, começou a virar e a revirar aquele livro estranho, até que caiu uma folha.
- Já estragaste o livro!
-EU…? Não estraguei nada! Esta folha simplesmente caiu…
- Deixa ver…!
Os dois meninos, surpreendidos, leram em uníssono: “O mistério será desvendado quando o segredo for revelado.”
Nesse momento, os avós chegaram a casa e com o susto, os netos deixaram cair a folha, que passou entre as calhas da madeira. João e Filipa entreolharam-se. Por baixo da sala encontrava-se a cave que todos achavam assombrada.
Depois, João teve a infeliz ideia de investigar a cave, durante a noite, enquanto os avós estivessem a dormir.
E assim fizeram. As suas lanternas iluminaram aos poucos as escadas escuras. Quando reencontraram a folha que havia caído do livro, algo incrível aconteceu:
- Filipa, olha! – gritou João.
A rapariga não podia acreditar no que os seus olhos viam: a folha estava a voar sozinha e ia, direitinha, ao encontro de uma parede que começou a iluminar-se. Surgiu, então, um pequeno texto que indicava a localização de uma caixa fechada por um grande aloquete idêntico ao do livro.
- Como vamos abri-la? – perguntou Filipa.
          João reparou que num buraco do chão estava uma chave. Com ela abriram a caixa e, lá dentro, estava uma outra folha parecida com a que caiu do livro, mas nesta dizia: “A próxima pista está no ponto mais alto da casa”. João pensou logo que o misterioso enigma estaria no sótão e os gémeos dirigiram-se para lá imediatamente. No caminho ouviram um ruído vindo da cozinha. Desligaram as lanternas, cheios de medo e avistaram a rabugenta empregada que subia para o quarto. Passado o perigo, retomaram o caminho.
Já no sótão, encontraram uma folha pousada na velha mesa que estava a “cair de podre”. Descobriram que se tratava do documento de retirada da casa à D. Arminda. Ainda no sótão, viram a janela branca aberta e saltaram para o telhado, porque tinham avistado uma folha espetada no cata-vento. Leram: “A próxima pista encontra-se no quarto que tem uns símbolos gravados na maçaneta da porta.”
Os gémeos desceram para o andar de baixo. Depois de muito procurarem, descobriram a maçaneta…
- OH, não! O quarto da rabugenta! – exclamou horrorizado o João.
- Como é que vamos entrar aqui? Dizem que ela dorme com um olho aberto e outro fechado…
 Ao olhar para a maçaneta, Filipa lembrou-se das suas aulas de Galego.
- Olha João, estas palavras são Galegas! Dizem: “Roda a maçaneta da porta trez… treze vezes e poderás entrar sem ninguém notar.”
- Treze?!
- Espera aí! Confundo sempre o três com o treze! Deve ser três. Vamos!
- Sim, temos que acabar com este mistério!
            Ao entrar no quarto, pareceu-lhes ouvir passos e esconderam-se dentro do guarda-roupa, com a porta entreaberta.
 D. Antonieta abriu as portas de rompante mas, por magia, João e Filipa tornaram-se invisíveis. Assustados com o que se estava a passar e, ao mesmo tempo, surpreendidos por não terem sido vistos, ficaram ainda mais admirados por haver uma entrada secreta com mais um papel dourado, muito brilhante.
            - O que será aquilo? - perguntou João.
            - Oh! É mais um daqueles papéis com aquelas letras esquisitas!
            - Nem dá para acreditar! Que aventura emocionante!
            - Podes crer! Nunca vivi uma aventura como esta!
            - Filipa, agora cala-te! Vamos é continuar a desvendar o mistério…
            Os dois irmãos lá foram apressadamente abrir o papel…
            - Despacha-te! - ordenou João – Que diz aí?
            - A próxima pista está debaixo do colchão da cama da D. Antonieta! - disse ela, com um ar assustado.
            - Ih!... Estamos tramados!
            Mas a sorte deles foi tanta, que se ouviu um estrondo vindo da cozinha.
            - Que barulheira é esta?! - perguntou a governanta, com voz de poucos amigos.
            Saiu de imediato e foi ver o que se estava a passar.
            João e Filipa foram espiar debaixo do colchão. Havia lá mais uma folha com um código, desta vez, em inglês. Dizia para saltarem pela janela e fecharem os olhos.
            - Estás pronta, Filipa?
            - Claro!
           Mal saltaram, apareceram dois dragões que os levaram até ao cimo do telhado de um castelo. Aí, estava um enorme cofre. Só que, por azar, estava fechado. Os dois irmãos não desistiram, foram de imediato procurar uma chave e, de repente, surge um brilho vindo do nada!
           - O que será aquilo? – perguntou João.
           - Não sei! Mas é lindo e fascinante!
           - Uau! Nunca tinha visto uma chave como esta! - disse João, espantado.
           - Olha, olha! Junto desta metade de estrela há mais um papel. O que será que nos diz, desta vez?
           Filipa leu a mensagem ainda com mais entusiasmo: “Para que possas abrir este cofre, tens que encontrar a outra metade desta estrela e, assim se formará a verdadeira magia e o mistério será desvendado”.
           - Como vamos encontrar a outra metade da estrela?
           - Não sei, mas não saio daqui sem ela! – respondeu  Filipa.
           A noite caiu e eles, cansados e com fome, acabaram por adormecer. Sonharam que estavam perdidos no bosque. Viram uma luz intensa junto a uma árvore. Correram em direcção a ela. João pegou-lhe e … os dois acordaram. João tinha na mão metade de uma estrela brilhante. Apressaram-se a juntar as duas metades que se transformaram numa chave! Usaram-na para abrir o cofre. Mas, para surpresa de ambos, estava vazio.
          Desiludidos, regressaram a casa dos avós, transportados novamente pelos dragões. «Afinal esta aventura não nos levou a nada!»
          De novo no sofá da sala grande, cansados e desapontados, João nem queria acreditar no que os seus olhos viam.
           - Que porta é aquela? Nunca a tinha visto!
           - Nem eu! Mas quero descobrir o que está por detrás dela. – entusiasmou-se Filipa.
          Levantaram-se imediatamente. Filipa abriu-a sem medo. Deslumbrados, os gémeos estavam perante prateleiras e prateleiras de livros...
           Esse sim, era o maior tesouro… uma fabulosa biblioteca!

Trabalho elaborado por todas as turmas do 6.º ano da E.B.2,3 Júlio Brandão

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Poemas sobre livros

A um Livro


No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de mágoas que me deste.

Estranho livro aquele que escreveste,
Artista da saudade e do sofrer!
Estranho livro aquele em que puseste
Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!

Leio-o, e folheio, assim, toda a minh’alma!
O livro que me deste é meu, e salma
As orações que choro e rio e canto! ...

Poeta igual a mim, ai que me dera
Dizer o que tu dizes! ... Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto! ...

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"

O Esplendor




E o esplendor dos mapas, caminho abstracto para a imaginação concreta,
Letras e riscos irregulares abrindo para a maravilha.

O que de sonho jaz nas encadernações vetustas,
Nas assinaturas complicadas (ou tão simples e esguias) dos velhos livros.

(Tinta remota e desbotada aqui presente para além da morte,
O que de negado à nossa vida quotidiana vem nas ilustrações,
O que certas gravuras de anúncios sem querer anunciam.

Tudo quanto sugere, ou exprime o que não exprime,
Tudo o que diz o que não diz,
E a alma sonha, diferente e distraída.

Ó enigma visível do tempo, o nada vivo em que estamos!

Álvaro de Campos, in "Poemas" (Heterónimo de Fernando Pessoa)